Vacina quadrivalente contra o HPV é associada à redução substancial do risco de câncer cervical invasivo - Oncologia Brasil

Vacina quadrivalente contra o HPV é associada à redução substancial do risco de câncer cervical invasivo

4 min. de leitura

O papilomavírus humano (HPV) é a infecção sexualmente transmissível mais comum. Muitas pessoas com HPV não desenvolvem nenhum sintoma, mas ainda podem infectar outras pessoas

A eficácia da vacina quadrivalente contra o papilomavírus humano (HPV) na prevenção de lesões cervicais de alto grau já foi previamente demonstrada. Entretanto, dados referentes ao uso da vacina e o risco subsequente de desenvolvimento de câncer cervical invasivo ainda não haviam sido elucidados.

Um recente estudo publicado no The New England Journal of Medicine envolveu dados – coletados entre 2006 e 2017 dos registros demográficos e de saúde da Suécia – de 1.672.983 pacientes do sexo feminino, com idades entre 10 e 30 anos. A população foi acompanhada até seu 31º aniversário. A associação entre a vacinação e o risco de câncer cervical invasivo foi analisada de acordo com a idade de acompanhamento, ano, país de residência e características dos pais (incluindo educação, renda familiar, país de nascimento da mãe e histórico de doença materna).

Um total de 527.871 meninas ou mulheres receberam pelo menos uma dose da vacina quadrivalente e outras 1.145.112 não receberam nenhuma dose. O câncer cervical foi diagnosticado em 19 mulheres que receberam a vacina versus 538 mulheres que não foram vacinadas.

A incidência cumulativa de câncer cervical foi de 47 casos/100.000 pessoas no grupo vacinado versus 94 casos/100.000 pessoas no grupo não vacinado aos 30 anos de idade. Entre as mulheres que iniciaram a vacinação entre 17 a 30 anos de idade, a incidência cumulativa foi de 54 casos/100.000 pessoas até os 30 anos. Entre as que iniciaram a vacinação antes dos 17, a incidência cumulativa foi de 4 casos/100.000 pessoas aos 28 anos.

No ajuste da análise para idade, a razão da taxa de incidência para a população vacinada versus não vacinada foi de 0,51 (IC95% = 0,32 – 0,82). Após ajuste adicional para ano e características residenciais e parentais, a razão da taxa de incidência foi de 0,37 (IC95% = 0,21 – 0,57).

Com estratificação de acordo com a idade de início da vacinação, as taxas de incidência totalmente ajustadas para câncer cervical foram de 0,12 (IC95% = 0,00 – 0,34) entre as mulheres vacinadas antes dos 17 anos e de 0,47 (IC 95% = 0,27 – 0,75) para as vacinadas de 17 a 30 anos de idade.

A razão da taxa de incidência totalmente ajustada foi de 0,36 (IC 95% = 0,18 – 0,61) entre as mulheres vacinadas antes dos 20 anos e de 0,38 (IC 95% = 0,12 – 0,72) para as vacinadas com 20 a 30 anos de idade.

Com esses resultados, os autores concluem que, entre as meninas e mulheres suecas de 10 a 30 anos de idade, a vacinação quadrivalente contra o HPV foi associada a um risco substancialmente menor de câncer cervical invasivo.

No Brasil, atualmente, existem duas vacinas registradas:

  1. bivalente, conferindo proteção contra o HPV tipos 16 e 18;
  2. quadrivalente, contra o HPV tipos 6, 11, 16 e 18.

Os HPV dos tipos 16 e 18 estão relacionados a lesões genitais pré-cancerosas de colo do útero, vulva, vagina, pênis e ânus. Já os tipos 6 e 11 relacionam-se a verrugas genitais.

De acordo com o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), essas vacinas possuem indicações distintas para as faixas etárias:

  1. Vacina bivalente: mulheres a partir de 9 anos, sem restrição de idade.
  2. Vacina quadrivalente: mulheres e homens entre 9 e 45 anos de idade.

O SUS oferece a vacina HPV quadrivalente gratuitamente para meninas e mulheres entre 9 e 14 anos, 11 meses e 29 dias de idade. Também é ofertada a mulheres com HIV/AIDS entre 9 e 26 anos, 11 meses e 29 dias de idade.

Em 2017, meninos entre 11 e 14 anos, 11 meses e 29 dias de idade também foram incluídos na vacinação gratuita, assim como aqueles entre 9 a 26 anos de idade com HIV/AIDS.

Reitera-se que a vacina contra o HPV também está disponível para os transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea e pacientes oncológicos do sexo feminino e masculino nas faixas etárias de 9 a 26 anos de idade, sendo necessária prescrição médica.

O esquema básico é de duas doses com 6 meses de intervalo em meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Pacientes com 9 a 26 anos de idade com HIV/AIDS, transplante de órgãos sólidos, de medula óssea e pacientes oncológicos devem receber esquema vacinal de três doses (0, 2 e 6 meses).

 

Referências:

Lei J, Ploner A, Elfström KM, Wang J, Roth A, Fang F, Sundström K, Dillner J, Sparén P. HPV Vaccination and the Risk of Invasive Cervical Cancer. New England Journal of Medicine. 2020 Oct 1;383(14):1340-8.

https://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vacinahpv/