Uso de protocolo no tratamento de mieloma múltiplo fora do contexto de estudo clínico - Oncologia Brasil

Uso de protocolo no tratamento de mieloma múltiplo fora do contexto de estudo clínico

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Dra. Erica Ottoni, médica hematologista do Hospital Moinho de Ventos, em Porto Alegre (RS), compartilhou sua opinião sobre o uso de dados da vida real em mieloma múltiplo, mencionando dois trabalhos sobre o tema.

Especialistas questionam cada vez mais nos congressos a aplicabilidade dos resultados de estudos clínicos na prática.

O cenário de um ensaio clínico randomizado e controlado, quando é realizado por clínicas, hospitais e/ou indústria farmacêutica, envolve pacientes rigorosamente selecionados, com acompanhamento bastante estreito, consultas frequentes e formulários específicos para a monitorização dos eventos adversos. Ou seja, são pesquisas realizadas em um contexto não replicável na prática clínica diária. Já os estudos de vida real podem dizer o quão aplicáveis são os protocolos e os resultados de determinada pesquisa controlada, ajudando médicos a escolherem e decidirem as melhores condutas para cada pacientes.

Trabalho de Richardson et al, 2018, por exemplo, indica que 70% dos pacientes que o médico encontra no dia a dia seriam inelegíveis para os estudos clínicos randomizados dos 6 principais grandes trials, mostrando o quão longe estariam os especialistas de atingir aqueles resultados dos ensaios.

Outro trabalho – realizado por Dr. Davies e apresentado no EHA 2019 – não mostrou em análise grandes diferenças de sobrevida livre de progressão na comparação de regimes de triplets contendo bortezomibe, carfilzomibe, daratumumabe ou ixazomibe em pacientes com mieloma múltiplo refratário. No entanto, esses resultados diferem bastante dos estudos clínicos randomizados.

A médica esclarece que os estudos clínicos randomizados e realizados em um cenário mais rígido são sim necessários para entender a eficácia e segurança de um tratamento, mas reforça a importância dos estudos de vida real para complementar esta informação.

Referências:
Richardson, P.G., San Miguel, J.F., Moreau, P. et al. Interpreting clinical trial data in multiple myeloma: translating findings to the real-world setting. Blood Cancer Journal 8, 109 (2018). https://doi.org/10.1038/s41408-018-0141-0

Davies F, et al. COMPARATIVE EFFECTIVENESS OF TRIPLETS CONTAINING BORTEZOMIB (B), CARFILZOMIB (C), DARATUMUMAB (D), OR IXAZOMIB (I) IN RELAPSED/REFRACTORY MULTIPLE MYELOMA (RRMM) IN ROUTINE CARE IN THE US EHA Library. Chari A. 06/15/19; 267036; PS1419