O que mudou no tratamento do câncer de cabeça e pescoço? - Oncologia Brasil

O que mudou no tratamento do câncer de cabeça e pescoço?

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A Dra. Aline Lauda, oncologista clínica da clínica Dom e Presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP) comenta que até pouco tempo o câncer de cabeça e pescoço era tratado como sítio único e cada vez mais há entendimento dos subtipos da doença. Cita três cenários de carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço e comenta como quatro estudos mudaram a prática clínica em 2019.

1. Abordagem dos tumores avançados de nasofaringe: estudo randomizado fase III avaliando quimioterapia de indução com gencitabina e cisplatina seguida de cisplatina concomitante a radioterapia versus cisplatina concomitante a radioterapia isolada demonstrou ganho estatisticamente significativo de sobrevida global, sobrevida livre de falência e sobrevida livre de metástases.

2. Desintensificação de tratamento dos tumores de orofaringe HPV positivo: Dois estudos publicados avaliaram desintensificar o tratamento substituindo a cisplatina pelo cetuximabe concomitante a radioterapia. O estudo De-Escalate avaliou pacientes com câncer de orofaringe HPV positivo de baixo risco (não tabagistas ou com história tabágica <10 anos-maço). Não houve diferença de toxicidade entre os dois braços do estudo, endpoint primário do estudo. Pacientes submetidos a cetuximabe concomitante a radioterapia apresentaram resultado inferior de sobrevida global e recidiva locoregional. O estudo RTOG 1016, randomizado, de não-inferioridade, avaliou pacientes com câncer de orofaringe HPV positivo de risco baixo e intermediário (incluiu pacientes tabagistas). Radioterapia associada a cetuximabe não atingiu o critério de não-inferioridade para sobrevida global quando comparado com radioterapia associada à cisplatina.

3. Carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço (CECCP) recidivado ou metastático: O Keynote 048 é um estudo randomizado fase III, de 3 braços que comparou pembrolizumabe + 5FU + platina versus cetuximabe + 5FU + platina versus pembrolizumabe monoterapia. Este estudo mostrou superioridade na sobrevida global da quimioterapia associada a pembrolizumabe comparada à quimioterapia com cetuximabe (sobrevida em 3 anos na população com CPS≥20: 33% vs. 8%, e na população geral 22% vs. 10%). As taxas de resposta foram semelhantes. Pembrolizumabe em monoterapia apresentou baixa taxa de resposta comparado a cetuximabe + quimioterapia (16% vs. 36%), sem benefício em sobrevida na população geral, mas o subgrupo com PD-L1 positivo apresentou maior sobrevida global.

Segundo a Dra. Aline, a individualização dos pacientes e subtipos vem beneficiando os pacientes e para 2020 são aguardados ainda mais estudos para melhores tratamentos.