Estudo TOSCA avalia efeitos da adjuvância em pacientes ≥ 70 anos com câncer colorretal estadio III - Oncologia Brasil

Estudo TOSCA avalia efeitos da adjuvância em pacientes ≥ 70 anos com câncer colorretal estadio III

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A combinação de oxaliplatina e fluoropirimidinas na terapia adjuvante do câncer de cólon estadio III demonstrou redução do benefício para pacientes com mais de 70 anos em uma análise de subgrupos do estudo TOSCA

Uma das principais discussões na prática clínica refere-se à tolerância dos pacientes idosos com câncer colorretal ressecável que serão expostos à terapia adjuvante com fluoropirimidinas e oxaliplatina. Uma análise de subgrupo do estudo TOSCA, apresentada na ESMO 2020, tentou avaliar essa questão.

Os pesquisadores analisaram dados de 3.759 pacientes com câncer de cólon que participaram do estudo multicêntrico de fase III TOSCA. No TOSCA, os pacientes foram aleatoriamente designados para receber 3 ou 6 meses de FOLFOX (leucovorina, fluorouracila e oxaliplatina) ou CAPOX (capecitabina mais oxaliplatina).

Esta análise foi composta por 2.360 pacientes com doença em estágio III. Destes, 1.667 tinham menos de 70 anos e 693 tinham ≥ 70 anos. Na coorte mais jovem, o acompanhamento médio foi de 62,5 meses e na coorte mais velha, 60,6 meses.

A comparação das coortes em relação às características dos pacientes mostrou que 10,5% dos idosos vs 3,3% dos mais jovens tinham um ECOG igual a 1 (p < 0,001); 40,8% vs 45,1% dos pacientes eram mulheres (p = 0,057); e 90,9% vs 84,3% tinham tumores T3/T4 (p < 0,001). Os pacientes idosos também tiveram um número maior de tumores pouco diferenciados quando comparados aos mais jovens (28,3% vs 24,2%, p = 0,039) e um maior número de tumores primários localizados do lado direito do cólon (40,9% vs 26,6%; p < 0,001).

Durante o acompanhamento, 46,7% dos pacientes idosos vs 41,4% na coorte mais jovem tiveram reduções de dose (p = 0,018) e 26,1% vs 19,3% necessitaram de interrupções do tratamento (p <0,001).

A recorrência da doença ocorreu com mais frequência na coorte mais velha, com taxas de 24,2% vs 20,3% nas populações idosas e jovens (p = 0,033), respectivamente.

Após a análise multivariável do intervalo livre de recidiva (definido como o tempo desde a randomização até a recidiva ou última avaliação da doença), corrigido para sexo, status de desempenho ECOG, local do tumor, estadio, grau, tratamento, duração do tratamento e redução da dose, nenhum efeito estatisticamente significativo foi encontrado (HR = 1,19). Um impacto significativo no intervalo livre de recidiva foi observado apenas nos tumores estadio III de alto risco versus baixo risco (HR = 2,05; p < 0,001).

Os autores concluem que entre os pacientes com câncer de cólon estadio III tratados com terapia adjuvante à base de oxaliplatina, os idosos ≥ 70 anos demonstraram diferente tolerabilidade com o tratamento e uma potencial redução do benefício em relação aos mais jovens. Pacientes idosos tendem a apresentar mais comorbidades do que os jovens, influenciando diretamente no manejo dos efeitos colaterais esperados da terapia adjuvante sistêmica. Esses dados de análise de subgrupo, portanto, geram a hipótese de um efeito detrimental dessa estratégia nos pacientes ≥ 70 anos, sendo necessários estudos prospectivos envolvendo essa população específica, a fim de que maiores evidências possam confirmar essa questão.

 

Referência:

Lonardi S, et al. Oxaliplatin plus fluoropyrimidines as adjuvant therapy for colon cancer in elderly patients: A subgroup analysis from TOSCA trial. Abstract 3990. ESMO Virtual Congress 2020.