2020 In Review: o que mudou no tratamento do câncer de cabeça e pescoço? - Oncologia Brasil

2020 In Review: o que mudou no tratamento do câncer de cabeça e pescoço?

15 min. de leitura

Dra. Aline Lauda, oncologista clínica, Diretora do Grupo DOM Oncologia e Presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço, discute os estudos mais importantes do ano de 2020 na área de câncer de cabeça e pescoço. 

 

1) COVID-19 

O Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço abordou, em uma revisão publicada na Oral Oncology, os principais desafios de manter o adequado acompanhamento dos pacientes oncológicos diante da pandemia de COVID-19. Em suma, a recomendação mais importante publicada é não interromper nem adiar o tratamento do câncer de cabeça e pescoço, tendo em vista a necessidade de tratar uma doença bastante agressiva e que demanda um acompanhamento estrito de uma equipe multidisciplinar. Salvo raríssimas exceções, como alguns casos de câncer de tireoide, o seguimento oncológico próximo é o ideal. 

 

2) TPExtreme  

O ensaio TPExtreme comparando o regime EXTREME ao TPEx (baseado em taxano) confirmou os resultados de sobrevida do regime TPEx, apesar da falta de aumento significativo da sobrevida global (SG), com uma toxicidade significativamente menor do que o regime EXTREME. Os resultados de qualidade de vida (QV) e análises exploratórias de sobrevida de acordo com os tratamentos de 2ª linha com foco em imunoterapia (IO) foram apresentados. 

 

O estudo aberto randomizou na proporção 1:1 pacientes com câncer de cabeça e pescoço metastático ou irressecável, não adequado para tratamento loco-regional. Ao todo, 539 participantes foram inscritos ao longo de um período de 37 meses. A QV foi avaliada com o questionário QLQ-C30 no início do estudo, semana (S) 12, S18, S26 e analisada por modelo linear misto. O desfecho primário de QV foi a pontuação do Global Health Status.  

 

Pontuações mais altas de Global Health Status (p = 0,02), funcionalidade física (p = 0,009), funcionalidade instrumental (p = 0,013) e pontuações mais baixas de perda de apetite (p = 0,041) foram observadano braço TPEx do que no EXTREME. Nenhuma diferença significativa foi observada para os demais escores.  

 

No tratamento de 2ª linha, 120 (47%) pacientes no braço EXTREME e 109 (44%) no braço TPEx receberam quimioterapia +/- cetuximabe; 41 (16%) no braço EXTREME e 41 (17%) no braço TPEx receberam IO, principalmente anti-PD-1/PD-L1. 79% e 85% desses tratamentos de 2ª linha foram administrados após a progressão nos braços EXTREME e TPEx, respectivamente.  

 

A SG mediana desde a randomização foi de 17,6 meses com cetuximabe e 19,4 com IO no braço EXTREME versu14,9 e 21,9 meses no TPEx (p = 0,077), respectivamente. A SG mediana desde o início da 2ª linha foi de 9,3 meses com cetuximabe e 8,3 meses com IO no braço EXTREME e 7,1 e 11,6 meses, respectivamente, no braço TPEx 

 

Dessa forma, observou-se melhoria na QV dos pacientes no braço TPEx em comparação com o braço EXTREME. A análise exploratória mostrou que o regime de TPEx baseado em taxano seguido por IO na 2ª linha pode fornecer uma SG mediana interessante aos pacientes que precisam de cetuximabe na 1ª linha, com menos toxicidade do que EXTREME.  

 

3) Quimioterapia oral metronômica versus cisplatina intravenosa  

Os regimes paliativos em pacientes com câncer de cabeça e pescoço recomendados pela National Comprehensive Cancer Network (NCCN) têm baixa aplicabilidade (menos de 1–3%) em países de baixa e média renda (LMICs) devido ao seu custo. Em um estudo anterior de fase II, os pacientes com câncer de cabeça e pescoço que receberam quimioterapia metronômica tiveram melhores resultados quando comparados àqueles que receberam cisplatina intravenosa, que é comumente usada como o padrão de tratamento nos LMICs. 

 

Nesse sentido, um estudo indiano, aberto, de não inferioridade, randomizado e de fase III recrutou pacientes que planejavam receber tratamento sistêmico paliativo para recidiva ou diagnóstico recente de carcinoma de células escamosas da cabeça e pescoço. Os participantes foram aleatoriamente designados (1:1) para receber: 

  • quimioterapia metronômica oral, consistindo em 15 mg/m² de metotrexato uma vez por semana mais 200 mg de celecoxibe duas vezes por dia até a progressão da doença ou toxicidade inaceitável; 
  • ou 75 mg/m² de cisplatina intravenosa uma vez a cada três semanas durante seis ciclos. 

 

O desfecho primário foi sobrevida global mediana. Assumindo que a sobrevida global (SG) de seis meses no grupo da cisplatina intravenosa seria de 40%, foi definida uma margem de não inferioridade de 13%.  

 

Ao todo, 422 pacientes foram aleatoriamente designados: 213 para o grupo de quimioterapia metronômica oral e 209 para o grupo de cisplatina intravenosa. Todos foram incluídos na análise por intenção de tratar e 418 pacientes (211 no grupo de quimioterapia metronômica oral e 207 no grupo de cisplatina intravenosa) foram incluídos na análise por protocolo.  

 

Em um acompanhamento médio de 15,73 meses, a sobrevida global mediana na população de análise de intenção de tratar foi de 7,5 meses no grupo de quimioterapia metronômica oral em comparação com 6,1 meses no grupo da cisplatina intravenosa (HR 0,773; p = 0,026). Na população de análise por protocolo, a sobrevida global mediana foi de 7,5 meses no primeiro grupo e 6,1 meses no segundo (HR 0,775; p = 0,029).  

 

Eventos adversos de grau 3 ou superior foram observados em 37 (19%) de 196 pacientes no grupo de quimioterapia metronômica oral versus 61 (30%) de 202 pacientes no grupo de cisplatina intravenosa (p = 0,01). 

 

Os autores concluíram que a quimioterapia metronômica oral é não inferior à cisplatina intravenosa no que diz respeito à sobrevida global em câncer de cabeça e pescoço no cenário paliativo e está associada a menos eventos adversos. Portanto, representa um novo padrão alternativo de tratamento. 

 

4) KEYNOTE-048 

Nesse estudo randomizado de fase III, pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço recidivado ou metastático e sem terapia sistêmica prévia foram aleatoriamente designados 1:1:1 para pembrolizumabe (P), pembrolizumabe + quimioterapia (P+C) ou esquema EXTREME (E). Sobrevida livre de progressão (SLP), taxa de resposta objetiva (TRO) e a duração da resposta foram avaliadas pelo RECISTv1.1 por revisão central independente cega. Sobrevida global (SG) e SLP foram estimadapelo método de Kaplan-Meier. Entretanto, análise post hoc dos subgrupos CPS < 1 e CPS 1-19 do estudo não tinham sido definidos de forma prospectiva até o momento.  

 

Sabe-se que o pembrolizumabe em monoterapia aumentou a SG em relação ao cetuximabe mais quimioterapia na população com CPS ≥ 20 (mediana de 14,9 versus 10,7 meses; HR 0,61; p = 0 · 0007) e CPS ≥ 1 (12,3 versus 10,3 meses; HR 0,78; p = 0 · 0086), e foi não-inferior na população total (11,6 versus 10,7; HR 0,85). 

 

Além disso, o pembrolizumabe mais quimioterapia melhorou a SG em comparação com cetuximabe mais quimioterapia na população total (13,0 vs 10,7 meses; HR 0,77; p = 0,034) na segunda análise interina e naquela com CPS ≥ 20 (14,7 vs 11,0; HR 0,60; p = 0,0004). Tanto o pembrolizumabe sozinho quanto associado à quimioterapia não melhoraram a SLP na segunda análise interina.  

 

No subgrupo CPS 1-19, o HR (IC 95%) para SG mostrou uma pequena vantagem não significativa de pembrolizumabe (n = 124) versus EXTREME (n = 133) (0,86 [0,66-1,12]) e favoreceu pembrolizumabe + quimioterapia (n = 116) versus EXTREME (n = 125) (0,71 [0,54-0,94]).  

 

No subgrupo CPS<1, a vantagem de SG não foi encontrada na comparação entre pembrolizumabe sozinho e EXTREME (7,9 versus 11,3 meses, respectivamente; HR 1,51; IC 95% 0,96–2,37) nem entre pembrolizumabe mais quimioterapia e EXTREME (11,3 versus 10,7 meses; HR, 1,21; IC 95% 0,76–1,94).  

 

Portanto, houve evidência de maior eficácia da terapia com o aumento da expressão de PD-L1. 

 

5) JCOG 1008 

O tratamento padrão para pacientes pós-operatórios de alto risco com carcinoma de células escamosas localmente avançado de cabeça e pescoço (LA-SCCHN) é quimiorradioterapia com cisplatina três semanas (100 mg/m² a cada 21 dias, 66 Gy em 33 frações). No entanto, uma preocupação é a toxicidade relacionada às altas doses deste tratamento. Cisplatina + radioterapia semanal (40 mg/m² 1x por semana mais 66 Gy em 33 frações) é um regime alternativo com melhor adesão. 

 

O estudo JCOG 1008 de fase II/III de cisplatina mais radioterapia (CDDP + RT) semanal em LA-SCCHN de alto risco pós-operatório foi realizado com o objetivo de confirmar a não inferioridade de CDDP + RT semanal (Grupo B) em comparação com CDDP + RT de três semanas (Grupo A). O ensaio envolveu pacientes com idades entre 20-75 anos com características pós-operatórias de alto risco (margem microscopicamente positiva e/ou extensão extranodal) e ECOG 0-1. Os pacientes foram randomizados em uma proporção de 1:1 para o Braço A ou Braço B. O desfecho primário da fase II foi a proporção de conclusão do tratamento e o da fase III foi a sobrevida global (SG). A margem de não inferioridade da razão de risco (HR) foi fixada em 1,32.  

 

Ao todo, 261 pacientes foram inscritos (Braço A 132, Braço B 129). Na segunda análise intermediária planejada na fase III com 76/161 eventos, o Comitê de Monitoramento de Dados e Segurança recomendou encerrar o estudo e publicar os resultados porque o limite estatístico para não inferioridade de sobrevida global havia atendido aos critérios de parada pré-especificados.  

 

Com um acompanhamento médio de 2,2 anos, a SG de três anos foi de 59,1% no Braço A e 71,6% no Braço B com um HR de 0,69 (p para não inferioridade = 0,00272 < 0,00433). A sobrevida livre de recidiva de três anos foi de 53,0% no Braço A e 64,5% no Braço B com um HR de 0,71.  

 

Em relação aos eventos adversos agudos, neutropenia (≥ grau 3), aumento da creatinina (≥ grau 2), deficiência auditiva (≥ grau 2) e mucosite (≥ grau 2) ocorreram em 48,8%, 8,5%, 7,8% e 55,0% no Braço A e 35,3%, 5,7%, 2,5% e 59,0% no Braço B, respectivamente. Para conformidade, a dose total média de CDDP foi de 280 mg/m² no Braço A e 239 mg/m² no Braço B. A dose total de radiação foi de 66 Gy em ambos os braços. A proporção de conclusão do tratamento foi de 93,2% no Braço A e 86,8% no Braço B.  

 

Portanto, esses dados permitem concluir que CDDP + RT semanal é não inferior ao CDDP + RT de três semanas para pacientes com LA-SCCHN de alto risco pós-operatório e tem um perfil de toxicidade favorável. CDDP + RT semanal deve ser considerada a nova opção de tratamento padrão para esses pacientes. 

 

6) ARTSCAN III 

Trata-se de um estudo de fase III controlado, randomizado e aberto, comparando o resultado do tratamento e a toxicidade entre radioterapia (RT) com cisplatina concomitante e cetuximabe concomitante em pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço avançado locoregional (CECP; estágio III-IV, 7ª edição). 

 

Os pacientes elegíveis foram aleatoriamente designados 1:1 para receber cetuximabe intravenoso 400 mg/m² uma semana antes do início da RT seguido por cetuximabe 250 mg/m²/sem, ou cisplatina intravenosa semanal 40 mg/m² durante a RT. A RT foi convencionalmente fracionada. Os pacientes com tumores T3-T4 foram submetidos a uma segunda atribuição aleatória de 1:1 entre a dose padrão de RT de 68,0 Gy para o tumor primário ou aumento da dose para 73,1 Gy. O desfecho primário foi a sobrevida global (SG). Os desfechos secundários foram o controle loco-regional, o controle local com RT com dose escalonada, padrão de falha e efeitos adversos. 

 

A inclusão do estudo foi encerrada prematuramente após uma análise provisória não planejada, quando 298 pacientes foram designados aleatoriamente. Aos três anos, a SG era de 88% e 78% nos grupos de cisplatina e cetuximabe, respectivamente (HR 1,63; P = 0,086). A incidência cumulativa de falhas locoregionais em três anos foi de 23% em comparação com 9% no grupo cetuximabe versus cisplatina (P = 0.0036). A incidência cumulativa de falhas à distância não diferiu entre os grupos de tratamento. O aumento da dose em tumores T3-T4 não aumentou o controle local. 

 

Dessa forma, observou-se que o cetuximabe é inferior à cisplatina em relação ao controle loco-regional para o tratamento concomitante com RT em pacientes com CEC de cabeça e pescoço avançado loco-regional.   

 

7) JAVELIN head & neck 100 

A sobrevida livre de progressão (SLP) e a sobrevida global (SG) em pacientes com carcinoma de células escamosas localmente avançado de cabeça e pescoço (LA SCCHN) não foram melhoradas por um regime de avelumabe mais quimiorradioterapia (QRT) seguido de manutenção com avelumabe versus placebo mais QRT (seguido de placebo de manutenção), de acordo com os resultados da análise provisória do estudo de fase III JAVELIN head & neck 100 apresentado na ESMO 2020.  

 

Este estudo de fase III randomizado, duplo-cego e controlado por placebo procurou determinar se o avelumabe e a QRT concomitante seguida de manutenção com avelumabe poderiam atrasar a progressão, uma vez que o LA SCCHN recorre em muitos pacientes após terapia multimodal contendo cisplatina em altas doses. 

 

JAVELIN inscreveu 697 pacientes com LA SCCHN previamente não tratado, confirmado histologicamente da orofaringe, hipofaringe, laringe ou cavidade oral que eram elegíveis para QRT definitiva com intenção curativa. Outros requisitos do estudo incluíram doença em estágio III, IVa ou IVb por AJCC (7ª edição), exceto para pacientes com câncer orofaríngeo positivo para papilomavírus humano, para os quais apenas o status T4 ou N2c ou N3 era permitido. 

 

Após a randomização 1:1, 350 pacientes foram designados para receber avelumabe a 10 mg/kg EV a cada duas semanas, mais QRT compreendendo cisplatina a 100 mg/m² a cada três semanas, mais fracionamento padrão de 70 Gy em 35 frações ao longo de 7 semanas; e 347 pacientes foram designados para receber placebo mais a mesma QRT. Ambos os braços receberam uma dose inicial e terapia de manutenção com avelumabe ou placebo por até um ano. As características basais dos pacientes foram semelhantes nos dois grupos. 

 

O desfecho primário de JAVELIN foi SLP. A análise interina não mostrou melhora significativa com a adição de avelumabe. Ocorreram 224 eventos de SLP e 131 SG. Nem mediana de SLP nem SG foram alcançadas em qualquer braço de tratamento. A razão de risco (HR) para SLP favoreceu placebo mais QRT (HR 1,21; p unilateral = 0,920). Os resultados de SG foram similarmente a favor de placebo/QRT (HR 1,31; p unilateral = 0,937). 

 

Eventos adversos (EAs) de grau ≥3 foram relatados com mais frequência com avelumabe mais QRT (88%) em comparação com 82% em pacientes com placebo/QRT. EAs fatais ocorreram em 6% dos pacientes em avelumabe/QRT e 5% dos pacientes que receberam placebo/QRT; 33% versus 32% dos pacientes, respectivamente, interromperam o medicamento do estudo devido a EAs. 

 

Embora o estudo não tenha demonstrado melhora estatisticamente significativa na SLP com avelumabe mais QRT em comparação com placebo mais QRT, esses resultados podem informar outros desenhos de estudos futuros. 

 

8) PembroRad 

Com base na hipótese de um potencial efeito sinérgico do pembrolizumabe quando combinado com RT, foi realizado um ensaio clínico randomizado de fase II com pacientes com carcinoma espinocelular (CEC) estágio III-IVa-b não operado da cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe e não candidatos para receber altas doses de cisplatina. Os pacientes receberam IMRT uma vez ao dia até 69,96 Gy concomitante com cetuximabe (braço Cetux-RT: dose de ataque de 400 mg/m² e 250 mg/m² semanalmente) ou pembrolizumabe (braço Pembro-RT: 200 mg a cada 3 semanas durante RT). O desfecho primário foi a taxa de Controle Loco-Regional (LRC) de 15 meses e os desfechos secundários incluíram sobrevida livre de progressão (SLP), sobrevida global (SG) e tolerância.  

 

Entre maio de 2016 e outubro de 2017, 131 pacientes foram randomizados e tratados por 27 centros: 65 pacientes no braço Cetux-RT e 66 pacientes no braço Pembro-RT. A mediana de idade foi de 65 anos, 92% eram fumantes, 60% tinham câncer de orofaringe (46% p16+), 41% de N2c-N3 com 25%, 56% e 19% de estágio III, IVa e IVb, respectivamente. O acompanhamento médio foi de 25 meses em ambos os braços.  

 

A toxicidade aguda foi menor no braço Pembro-RT do que no braço Cetux-RT: 74% versus 92% dos pacientes com pelo menos um grau ≥ 3 eventos adversos agudos (p = 0,006), principalmente devido à dermatite no campo de radiação, mucosite e erupção cutânea. LRC em 15 meses foi de 59% no braço Cetux-RT e 60% no braço Pembro-RT, não significativamente diferente: OR = 1,05 (IC de 95%: 0,43-2,59, p = 0,91).  

 

A taxa de SLP em dois anos foi de 40% no braço Cetux-RT versus 42% no braço Pembro-RT. Não houve diferença significativa entre os braços para SLP: HR = 0,83 (IC 95% 0,53-1,29, p = 0,41). A taxa de SG em dois anos foi de 55% no braço Cetux-RT versus 62% no braço Pembro-RT. A SG não foi significativamente diferente entre os braços: HR = 0,83 (IC 95%: 0,49-1,40, p = 0,49). 

 

Portanto, em comparação com o cetuximabe-RT, o pembrolizumabe concomitante com RT não melhorou os desfechos de sobrevida, embora seja menos tóxico. 

 

9) TREMPLIN  

Na Europa, a quimioterapia de indução (ICT) seguida de radioterapia é preferível à quimiorradioterapia convencional para evitar a laringectomia total em pacientes com câncer de laringe/hipofaringe. Em comparação com a radioterapia convencional, a biorradioterapia com cetuximabe melhora significativamente as taxas de controle loco-regional e a sobrevida global (SG), sem qualquer aumento na toxicidade incontrolável. 

 

O estudo TREMPLIN incluiu pacientes anteriormente não tratados com carcinoma de células escamosas de laringe/hipofaringe estadio III-IV para receberetrês ciclos de docetaxel e cisplatina 75 mg/m² no dia 1 e fluorouracil 750 mg/m² por dia nos dias 1 a 5 como terapia de indução. Os fracos respondedores (<50% de resposta) foram submetidos à cirurgia de resgate. Os respondedores (≥ 50% de resposta) foram aleatoriamente designados para radioterapia convencional (RT; 70 Gy) com cisplatina simultânea 100 mg/m² por dia nos dias 1, 22 e 43 de RT (braço A) ou cetuximabe simultâneo 400 mg/m² dose de ataque e 250 mg/m² por semana durante RT (braço B). O desfecho primário foi a preservação de laringe em três meses. Os desfechos secundários foram a preservação da função laríngea e a SG em 18 meses. 

 

Um total de 153 pacientes foram incluídos. Entre 126 respondentes TPF-ICT, 116 foram randomizados para receber cisplatina (n = 60) ou cetuximabe (n = 56). O acompanhamento médio foi de 77,5 meses. As taxas de SG em cinco anos foram de 66,6% versus 66,9% (p = 0,9), respectivamente. Taxas de controle loco-regional de cinco anos foram 79,8% versus 67,8% (p = 0,18). Sobrevida livre de disfunção laringo-esofágica de cinco anos foi de 62,2% versus 56,2% (p = 0,38). Glândula salivar grau III/IV tardio e toxicidade laríngea ocorreram em 10,3% versus 9,8% e 6,8% versus 11,8% dos pacientes que receberam radioterapia com cisplatina versus cetuximabe, respectivamente. 

 

Portanto, nenhuma diferença significativa na sobrevida livre de disfunção laringo-esofágica foi observada entre os dois braços. TPF-ICT seguido por quimiorradioterapia convencional ou cetuximabe foi viável, e a toxicidade a longo prazo não foi estatisticamente diferente entre os dois braços. 

 

10) Axitinibe no tratamento do carcinoma adenoide cístico  

O carcinoma adenoide cístico (ACC) não responde à quimioterapia citotóxica. Vários agentes antiangiogênicos foram avaliados em estudos de fase II de braço único. No entanto, o papel da quimioterapia ainda é controverso, devido ao curso natural estável da doença sem quimioterapia e à falta de ensaio clínico randomizado. 

 

Nesse sentido, foi conduzido um estudo randomizado, multicêntrico, prospectivo e de fase II para avaliar a eficácia do axitinibe em comparação com observação. Foram recrutados pacientes com ACC metastático recidivado que progrediram em nove meses e eles foram designados aleatoriamente para axitinibe (5 mg duas vezes ao dia) ou braço de observação com proporção de 1:1. O cruzamento para o braço do axitinibe foi permitido para pacientes no braço de observação que apresentavam progressão da doença. O desfecho primário foi a taxa de sobrevida livre de progressão (SLP) de seis meses. Os desfechos secundários incluíram taxa de resposta objetiva (TRO), sobrevida geral (SG), SLP, duração da resposta e eventos adversos. 

 

Um total de 60 pacientes alocados aleatoriamente: axitinibe (N = 30) e observação (N = 30). Com um acompanhamento médio de 25,4 meses, a taxa de SLP de seis meses foi 73,2% no braço axitinibe e 23,2% para o braço de observação (HR 0,19; P < 0,001). A mediana de SLP foi de 10,8 versus 2,8 meses (P < 0,001); a TRO foi de 3,3% versus 0%; a taxa de controle da doença foi de 100% versus 51,9%, respectivamente. Após o crossover, a TRO de axitinibe no braço de observação foi de 11,1%. A SG mediana não foi alcançada no braço axitinibe e foi de 28,5 meses no braço de observação (P = 0,688). 

 

Os eventos adversos relatados com mais frequência de axitinibe foram mucosite oral de grau 1 ou 2 e fadiga.  

 

Neste primeiro ensaio randomizado em pacientes com ACC recorrente ou metastático, o axitinibe aumentou significativamente a taxa de SLP de seis meses em comparação com a observação. 

 

11) LIBRETTO-001 

Mutações RET ocorrem em 70% dos cânceres medulares da tireoide, e fusões RET ocorrem raramente em outros cânceres da tireoide. O estudo LIBRETTO-001 inscreveu pacientes com câncer medular de tireoide com mutação em RET com ou sem tratamento anterior com vandetanibe ou cabozantinibe, bem como aqueles com câncer de tireoide positivo para fusão de RET previamente tratado, nesse ensaio de fase I/II de selpercatinibe. O desfecho primário foi uma resposta objetiva (uma resposta completa ou parcial), conforme determinado por um comitê de revisão independente. Os desfechos secundários incluíram a duração da resposta, sobrevida livre de progressão e segurança. 

 

Nos primeiros 55 pacientes consecutivamente inscritos com câncer medular de tireoide com mutação em RET que receberam vandetanibecabozantinibe ou ambos, a porcentagem de participantes que apresentaram resposta foi de 69% e a sobrevida livre de progressão em um ano foi de 82%. Em 88 pacientes com câncer medular de tireoide com mutação em RET que não haviam recebido vandetanibe ou cabozantinibe anteriormente, a porcentagem que apresentou resposta foi de 73% e a sobrevida livre de progressão em um ano foi de 92%. Em 19 pacientes com câncer de tireoide positivo para fusão em RET previamente tratado, a porcentagem com resposta foi de 79% e a sobrevida livre de progressão em um ano foi de 64%.  

 

Os eventos adversos mais comuns de grau 3 ou superior foram hipertensão (em 21% dos pacientes), aumento do nível de alanina aminotransferase (em 11%) e aminotransferase (em 9%), hiponatremia (em 8%) e diarreia (em 6%). De todos os 531 pacientes tratados, 12 (2%) descontinuaram o selpercatinibe devido a eventos adversos relacionados ao medicamento. 

 

Portanto, neste estudo de fase I/II, o selpercatinibe mostrou eficácia duradoura com efeitos tóxicos principalmente de baixo grau em pacientes com câncer medular de tireoide com e sem tratamento prévio com vandetanibe ou cabozantinibe. 

 

Referências:  

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